22 de agosto de 2011

O fim do mundo. E o começo de tudo.


Durante uma semana no mês de junho estive em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Cidade em que trabalha o marido, e que resolvi morar assim que o ano letivo de 2011 terminar.

Passar este tempo lá me fez lembrar da época em que morava na também cidade gaúcha de Pelotas, cidade natal de praticamente toda a minha família.

Era em Pelotas que passava todas as férias de verão desde pequena, era lá que todos os tios e primos se reuniam nas saudosas festas de fim de ano, era lá que eu me sentia livre, era lá que tínhamos (eu e meus irmãos) turma na rua da casa da tia, brincávamos de esconde-esconde, dávamos voltas de bicicleta na quadra (assim é chamado um quarteirão naquele Estado), ia a bailinhos, festas de aniversário, tinha muitas amizades. Eu curtia muito as férias lá, afinal na época ainda existiam férias de 30 dias (que hoje é artigo de luxo). Naquele tempo, o próprio tempo passava devagar. Chegamos a ficar por lá durante 3 meses seguidos, revezando-nos entre as casas das tias e da avó. Tempo bom, muito bom!

Não podia ser diferente: com tantas idas e vindas de São Paulo para o Rio Grande, aconteceu de arrumar um namorado gaúcho. Dois anos namorando à distância, só nos vendo nas férias. Foram lindos e difíceis dois anos...A meta estava traçada, tínhamos uma certeza absurda de que tudo daria certo e saí de casa, aos 17 anos, para casar e morar com meu amor, não necessariamente nesta ordem.

Em Pelotas, vivendo com o love, comecei a ter uma vida totalmente diferente da que tinha quando solteira, completamente feliz, satisfeita, livre...Claro, uma menina de 17 anos quer mais é ser livre. Eu andava por aquelas ruas sozinha, sem ninguém para me controlar, para me dizer o que eu deveria ou não fazer, sem ter que cumprimentar ninguém, afinal era (pelo menos para mim) uma cidade grande, e eu não conhecia quase ninguém. Não que eu quisesse aprontar todas, esse nem é meu estilo, mas eu queria me mandar, essa é a realidade. Tinha um rapaz que me amava e me mimava de todas as formas possíveis, realizava todos os meus sonhos, me ouvia e entendia. E assim continua até hoje.

Vivi lá por 6 anos da minha vida. Lá tive a minha única casa própria até hoje (foi vendida há um tempão, mas ainda sinto saudades...), tive dois filhos, tinha amigas como jamais tive depois de sair de lá, tinha uma vizinha-amiga que me ajudava muito, tinha um marido que saía cedo e voltava para almoçar em casa, sesteava (costume da região que eu criticava e agora acho o máximo) e depois saía de novo. Eu era uma dona-de-casa prendada e feliz, não tinha estresse nem TPM. Nos finais de tarde tomava banho e dava banho na filha (que foi única por 4 anos e meio), então sentávamos na frente de casa para ver o movimento, conversar com os vizinhos que passavam, esperar o bem chegar do trabalho, curtir o anoitecer que só acontece – pasmem! – às 21 h (no horário de verão). Tudo isso era muito bom, a vida era mais devagar, e por isso mesmo mais gostosa.

Mudamo-nos de lá há exatos 11 anos, e continuo indo todo ano, mas é sempre tão corrido. Férias de 30 dias realmente não existem para nós e quando estamos lá, ficamos nos dividindo entre uma casa de parente e outra, e o tempo passa ainda mais rápido.

Nessa semana recente na casa do marido, pude reviver a rotina que havia ficado lá atrás: o marido vinha para almoçar em casa, ainda tinha tempo para a sesta, assistíamos ao Jornal do Almoço da RBS TV (afiliada da Rede Globo), e eu entrava em contato de novo com aquelas tradições, aquele sotaque, aquelas músicas, aquele bairrismo típico dos gaúchos, aqueles times. Foi muito, muito, muito bom! Senti saudades. Mais que isso: vi que senti falta daquilo tudo por esse tempo todo. Percebi que aquela terra é mais meu lugar do que qualquer outro. Vi minhas raízes, entendi um pouco mais daquela história, amei muito mais aquela gente.

Coincidentemente (ou não!), estava passando no Curtas Gaúchos (programa exibido todo sábado, após o Jornal do Almoço e que sempre amei) uma pequena série de 4 episódios chamada O Fim do Mundo. Naquele sábado foi ao ar o terceiro episódio, chamado A Música do Silêncio. Achei lindíssimo! Deu ainda mais saudade e certeza de que tudo lá mexe comigo de uma maneira especial. Fiquei curiosa para ver todos os capítulos, que estão disponíveis no You Tube (busque por “O Fim do Mundo RBS TV”) e te digo de antemão: valem à pena!

Capítulo 1: Sabores do Sul;
Capítulo 2: Terra de Contrastes;
Capítulo 3: A Música do Silêncio; e
Capítulo 4: O Povo do Silêncio.

PS (1): Mais informações sobre O Fim do Mundo no blog da série http://wp.clicrbs.com.br/fimdomundo

PS (2): Eu sempre achei que Pelotas fosse o fim do mundo, mas descobri que não é...ainda tem muito chão lá para baixo.

PS (3): O marido achou curioso eu ter gostado da série, por ser uma aventura sobre duas rodas, e tal...mas amor, o que gostei mesmo foi das histórias que esse povo tem para contar.

PS (4): Dia desses, altos papos com a filhona de 15 anos, e ela me perguntou: “Mãe, qual foi a melhor época da sua vida?”. Adivinha o que respondi: “Os 6 anos em que moramos em Pelotas”.

Foi lindo!

2 comentários:

jovoloski Artes disse...

texto perfeito.... tbm sinto muuuita falra do RS, é outro mundo, né?!

SAMY disse...

Outro mundo...rs...volta!...a gente se encontra lá...

Beijos!